sexta-feira, 4 de maio de 2012

Um fato curioso

 

Um fato curioso no 14º Salão da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil

Por Shirlei Victorino

Sinceramente, não acho que exista, de fato, uma classificação de textos para crianças, jovens ou adultos. O ato de contar, os processos de mediação de leitura, que congregam corpo, gestos, voz, possibilitam a ativação de saberes e de conhecimentos prévios que serão acionados por cada um/uma, considerando vivências e reminiscências. Claro que não estou aqui a fazer apologia quanto ao escancaramento da obra literária, velha lição ensinada por Umberto Eco.  Tampouco esqueço o que nos disse Nelly Novaes Coelho quanto à necessária adequação dos textos às diversas etapas do desenvolvimento infantil e juvenil. Na verdade, procuro palavras certas para falar como professora de literatura que, em uma feira de leitura, se recorta, também, como mãe. Afinal, lá fui eu a levar o meu pequeno para esse encontro de vida pulsando, já que a literatura, como arte da linguagem, requer uma iniciação, no caso presente, requer continuidade e permanência. Vamos todos os  anos.   
        O Salão da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil é sempre uma boa pedida. “Os livros fazem parte da casa, da comida, da experiência, da maternidade, do cotidiano” como nos confidenciou Adélia Prado. Pequeno, aconchegante, sentimo-nos em casa, principalmente em alguns estandes que têm a cara de uma sala de estar íntima, como o da nossa querida Lygia Bojunga. O 14º Salão, que termina nesse domingo, não foi diferente.  E, quanto a isso, não foi diferente mesmo.  Acho o máximo oferecer às crianças um livro como brinde, na saída, deixando-a imaginar mundos e cores, letras e sentidos.
         Mas, voltando às linhas iniciais desse texto, que agora nomeio como escrita-desabafo, fiquei decepcionada com a visão que se tem da criança, recortada por tamanho, não respeitada em sua singularidade infantil. Esclareço.
         Meu filhote tem 9 anos: menino grande, é verdade! Mas a cabecinha também pertence às histórias dos heróis e dragões, dos vampiros e das bruxas, dos feitiços e desfeitiços, pois o mal nunca deve prosperar, lição que ele sabe de cor e salteado!  Como qualquer criança, ansiosa, esperava o seu prêmio, ou, ainda, esperava a concretização do direito de escolher ou, ainda mais, do direito de olhar e ver o que havia para levar. Ledo engano. A atendente foi taxativa, separou três títulos que eram para o tamanho dele (?).
       Muchachito robusto, parece ter uns 13, 14 anos, se não fosse a carinha de um anjinho barroco e os olhinhos brilhantes que denunciam a sua natureza infantil (por isso tem muito adulto fechando os olhos com determinação para não ser confundido e ter o passaporte liberado para o ingresso no mundo dos adultos, das palavras e das coisas bem nomeadinhas). 
       Bom, sigamos. Como selecionar uma leitura pelo tamanho dele? Ou porque separar livros que ninguém levaria para aqueles que são julgados como maiores e, por isso mesmo, não teriam mais direito a navegar pelo mundo das belas histórias.  “Cavalo dado não se olha os dentes”, pode alguém opinar .  Mas, em se tratando de uma feira de livros cujo objetivo é estimular e difundir o prazer e o gosto pela leitura há que se olhar, sim! Afinal, como diz Cora Coralina, “O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim, terás o que colher”. Realmente, a célebre poeta tem toda razão. Aceitei (ops!) aceitamos o livro e cá estamos a semear uma estória. Mas veja lá, qual é o tamanho do seu filho?

 Shirlei Vitorino 
 Coordenadora do Comitê Letração


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